O Manel é fixe!

"Conheci" o Manel há três meses e meio. Assim que entrei e dei de caras com ele, pensei "estou lixada! Simpatia foi coisinha que Deus aqui não distribuiu!"
Cara de bronco, antipático. Não falou. Resmungou qualquer coisa entre dentes que não percebi. E nem ao trabalho me dei de pedir para repetir. Não fosse a fera fulminar-me ali mesmo!
"Irra! detesto gente antipática!"

Hoje é diferente. Bem diferente!
A cara de antipático por lá continua, mas assim que abre a boca, a boa disposição que a cara esconde, as palavras mostram. Curtas, certeiras. Não há cá rodeios. E as coisas lá ficam ditas, umas mais a sério do que outras, mas sempre num ar de mauzão de sorriso entre dentes. Vejo-o como dois em um que nada têm a ver um com o outro: há um Manel cómico dentro do que se mostra antipático porque de outra maneira não sabe ser e é para isso mesmo que «as aparências iludem».
Tem um sentido de humor que só mesmo nele lhe cai bem.
Faz-me rir e berrar de susto. Dá-se ao trabalho de subir as escadas só para me vir gritar ao ouvido e depois:
"Eu tinha de testar! Afinal tu assustas-te mesmo!"
[já se fazem apostas para ver quantas vezes me conseguem assustar]

Há pessoas com que convivemos uma vida e por isso as tomamos para nós e são sempre o melhor do mundo. Também julgamos as mesas e as cadeiras da primária gigantes, aos seis, e depois "são tão pequenas"...
É mesmo assim! A vida avança e a idade ensina...a ter cautela e manter o pézinho bem assente. Afinal conhecer tem o seu quê de complicado virado para o da desilusão.
Não conheço o Manel. E prefiro continuar sem o fazer.
Prefiro cruzar-me com ele à entrada, tê-lo por 'camaraman' de vez em quando e assim rir os quilómetros que fazemos juntos. E agradacer-lhe, sem ser preciso uma palavra, por me safar de um esquecimento e dele fazer de conta que não aconteceu.
E depois vem o Carlos Paião "acabadinho de comprar que não se pode falar em pirataria. Só fazer!".
Hei-de cruzar-me mais vezes com o Manel. De uma maneira, ou de outra.
E é assim que as coisas acontecem: há pessoas que vão passando. Passam de raspão, mas a marquinha fica lá. Fica lá a boa impressão. Essa mesma que se tem de quem não se conhece.